O moçambicano Mahomed Ibrahim conhece o mercado angolano há mais de 17 anos. Esse conhecimento foi importante para trazer agora para o país a marca Remax, referência mundial do imobiliário. Em Fevereiro, Mahomed abriu em Luanda a Remax Multitrust, facto que chamou a atenção não só pela marca, mas também pelo volume do investimento, cerca de um milhão de euros. Com uma equipa inicial de 30 colaboradores, Mahomed pretende agora espalhar a actividade da Remax por todo o país. O seu grupo atravessou também a “inevitável crise”, mas recorrendo à “inovação, tecnologia e criatividade”, já vislumbra oportunidades “reais” e “de grande valor”, até mesmo com a previsível entrada em Angola de grandes grupos económicos. “Estou em crer que 2020 é o ano da estabilização do mercado imobiliário angolano”, afirma, peremptório, o presidente do conselho de administração da Remax Multitrust nesta entrevista ao JORNAL DO IMOBILIÁRIO.
A Remax é uma prestigiada marca mundial do comércio imobiliário. A abertura da vossa empresa em Luanda, com o nome Remax Multitrust, vem significar que o mercado imobiliário de Angola apresenta um grande potencial de negócios? Como surgiu a ideia de abrir a agência em Luanda?
O nosso grupo opera em Angola desde 2004, pelo que o conhecimento que temos do mercado angolano associado a um interesse de há muitos anos na área foi o grande veículo para trazermos a marca líder mundial no mercado imobiliário para Angola. A abertura da primeira agência em Luanda tem a ver com uma estratégia de negócio de respondermos a necessidades que existem de Cabinda ao Cunene, nas suas variantes: comercial, industrial e habitacional. Através de uma rede de consultores espalhada por todo o país e no estrangeiro, estamos em condições de servir clientes que estejam em qualquer província de Angola ou mesmo noutras geografias.
Que tendências a Remax Multitrust identifica na evolução do mercado imobiliário angolano para os próximos tempos?
O mercado imobiliário angolano sofreu várias flutuações nos últimos anos, e estou em crer que 2020 é o ano da estabilização do mesmo. A entrada da Remax no mercado angolano é a prova de que estamos prontos para fazer parte dessa consolidação, formando técnicos especializados nas boas práticas e comercialização de imóveis, assim como na prospecção de mercado. Com o Executivo e o Banco Central, estamos prontos para colaborar propondo soluções dirigidas a investidores e à população.
Há alguns anos, o imobiliário angolano estava em pleno voo. Em sua opinião, a crise que se gerou depois teve apenas a ver com a falta de financiamento? Que lições há a reter daquele período?
Não há momento em que se aprenda mais do que quando temos de contornar as adversidades da economia. À semelhança de outros empresários que se mantiveram no mercado angolano depois de 2015, tive momentos de grande reflexão que me deram um entendimento macro da situação que estávamos a viver, e, no meu papel de empreendedor, tive de criar soluções recorrendo à inovação, tecnologia e criatividade de forma a manter a minha quota no mercado. Adicionalmente, nestes períodos percebemos a importância da educação, nomeadamente financeira, e as bases que nos dá para o sustento das nossas famílias.
Estando o mercado hoje em baixa, considera que esta é uma boa altura para investir apesar de a maior parte das consultoras aconselharem cautela aos investidores? Quais são as oportunidades de negócios imediatas e em que modalidades vai a Remax Multitrust explorar o negócio?
A perspectiva do mercado imobiliário estar em baixa, depende muito do interessado: há momentos mais vantajosos para os investidores, e outros para quem procura comprar, por exemplo, a primeira habitação. O risco é um factor comum a qualquer tipo de investimento, e mesmo com amplo conhecimento nos mercados não só angolano, mas também externos, nem sempre conseguimos antecipar o que vai acontecer, pelo que a cautela nos investimentos é um factor a ter em conta.
Quanto às oportunidades que existem no mercado imobiliário, são reais, de grande valor e antecipam que nos próximos tempos seja natural a entrada de grandes grupos, no mercado angolano, que vão dinamizar a economia nos seus diversos sectores. A Remax, enquanto líder mundial, agora presente em Angola, está pronta para servir o mercado imobiliário de forma transversal nas áreas empresarial, habitacional e comercial.
Num momento em que o Executivo angolano se concentra prioritariamente nas novas centralidades, porque tem compromissos políticos, nomeadamente as eleições autárquicas para este ano, acha possível voltar a haver uma parceria público-privada na área da promoção imobiliária, como se viu no passado?
Acredito que as parcerias público-privadas têm sido criadas sempre no sentido de facilitar a aquisição de casa própria, ou noutras situações, promover o arrendamento em casas com melhores condições. Nestas circunstâncias, parece-me que vão surgir novas parcerias, e a Remax está em Angola precisamente para facilitar esse processo, e inclusive tratar da intermediação.
Em sua opinião, como podem ser resolvidos os projectos imobiliários que ficaram parados e abandonados com a crise, como por exemplo o Shopping Kinaxixi, e outros?
A crise é inevitável e o exemplo que me dá é apenas um. Agora podemos ver o mercado de duas formas: analisando a crise e focando-nos nela ou, por outro lado, analisarmos todas as oportunidades de forma a trazer mais investimento, qualificar mais mão-de-obra, criando novas dinâmicas na economia de consumo de forma a que se viabilize economicamente um projecto como o do Shopping Kinaxixi, e outros similares que já operam em Angola.
Que projectos tem a Remax Multitrust em carteira para 2020? Quanto vai investir em 2020?
Já assumimos a liderança no mercado imobiliário angolano, e vamos trabalhar para continuar a estabelecer parcerias com todos os stakeholders que já estão no mercado, desde imobiliárias, banca, áreas de investimento, etc. Por outro lado, e junto do Executivo, colocamo-nos como um parceiro que pode ser útil a assessorar e/ou a aconselhar na elaboração de novas medidas legislativas, quer na regulação do mercado, e nas componentes fiscais do sector, em termos de acesso ao financiamento, criando sistemas de taxas de juro bonificadas, por exemplo para jovens ou casais recém-casados, aportando toda a nossa experiência e conhecimento do mercado e do sector imobiliário, quer nacional ou internacional.
Dentro da nossa casa, vamos continuar a investir na formação contínua dos nossos quadros, pilar da empresa, e a ter presente que fazemos parte de uma nova realidade do mercado angolano: organizado, profissional e com novas oportunidades para investidores, nacionais e internacionais, e principalmente para os angolanos.