Fitch alerta para forte contracção no sector da construção em Angola

Novo Aeroporto Internacional de Luanda

Novo Aeroporto Internacional de Luanda

A consultora Fitch Solutions cortou a sua previsão de crescimento médio anual da indústria de construção civil em Angola, de 6,7% para 0,9% nos próximos quatro anos, uma revisão significativa explicada com a descida do preço do petróleo.

“Revimos as nossas perspectivas de crescimento para a indústria de construção em Angola, com base na nova previsão da nossa equipa de petróleo e gás para o petróleo Brent, para a qual esperamos uma média de 60,8 dólares por barril a médio prazo, significativamente abaixo das máximas anteriores a 2014”, escrevem os analistas da consultora internacional.

Num artigo sobre a indústria de construção civil em Angola, publicado na sexta-feira (13/9) na página da consultora na internet, a Fitch Solutions considera que “o crescimento do sector da construção em Angola vai continuar fraco a médio prazo, à medida que o Governo reduzir as despesas de capital devido às menores receitas petrolíferas”.

“Estamos agora a prever um crescimento médio de 0,9% entre 2019 e 2023, face aos 6,7% estimados anteriormente”, referem os autores do artigo.

O artigo sublinha que o crédito barato fornecido pela China permitirá que alguns projectos de infraestrutura continuem, mas alerta que “a alta carga da dívida manterá os custos do serviço da dívida elevados no futuro, reduzindo as receitas governamentais disponíveis para o financiamento da infraestrutura e pesando no crescimento do sector da construção”.

Os analistas da Fitch Solutions estimam que a percentagem do endividamento de Angola para o presente ano será de 86,4% do PIB.

Ainda que não prevejam uma recessão na construção, como aconteceu em 2015, quando o sector caiu 1,3%, após o colapso do preço do petróleo em 2014, uma vez que o Governo não conseguiu manter os níveis de investimento necessários para assegurar o andamento dos projectos de infra-estrutura, os analistas da Fitch Solutions garantem que “o crescimento abrandará consideravelmente e os riscos serão ponderados pelo lado negativo”.

Assim, a consultora diz prever um crescimento de apenas 0,8% em 2018 e 0,2% em 2019, atingindo depois uma média anual de 0,9% entre 2020 e 2023 e 2,3% entre 2024 e 2028.

No entanto, alerta que haverá “potencial para mais revisões em baixa dessa previsão se os cortes na despesa forem mais severos do que o que antecipamos actualmente ou se houver novas quedas no preço do petróleo”.

Financiamento da China

O artigo da Fitch Solutions diz que Angola continua fortemente dependente do financiamento da China para o desenvolvimento de infra-estrutura.

Os analistas da consultora salientam que alguns dos maiores projectos do país são financiados com empréstimos chineses, nomeadamente o Novo Aeroporto Internacional de Luanda, com 6,4 mil milhões de dólares, o Projecto Hidroelétrico de Caculo-Cabaça, com 4,5 mil milhões de dólares, e o Porto do Caio, com mil milhões de dólares.

“Mesmo que esses projectos avancem relativamente pouco”, comentam, “isso não será suficiente para impulsionar o crescimento (do sector da construção) se o financiamento do governo para outros projectos for reduzido.”

“Além disso”, acrescentam, “a disponibilidade continuada de crédito chinês barato não é garantida a longo prazo e Angola acumulou já uma carga de dívida significativa, no valor estimado de 86,4% do PIB em 2019.”

“Os financiadores chineses estão a tornar-se cada vez mais sensíveis às questões de sustentabilidade da dívida angolana e embora grande parte do crédito chinês a Angola seja sustentada por recursos petrolíferos, a sua grande carga de dívida é uma preocupação”, sublinham os autores.

“Se o governo continuar a obter empréstimos para financiar o seu deficit fiscal, os custos do serviço da dívida aumentarão e reduzirão ainda mais os fundos disponíveis para as despesas em infraestrutura”, conclui o artigo da Ficth Solutions.

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