Factos do Mercado Imobiliário Angolano – Abril e Maio

Factos do Imobiliário Angola - Abril/Maio

Factos do Imobiliário Angola - Abril/Maio

Com a construção imobiliária e o segmento habitacional à espera de melhores dias por falta de financiamento, o mercado imobiliário angolano parece agora sonhar com a exploração do sector hoteleiro e de alojamento, no intuito de promover o turismo e atrair investidores. O mercado angolano tem disto, acorda para sonhos cíclicos, sem, por vezes, consolidar o adquirido.

A realização em Maio em Luanda de dois grandes eventos internacionais, o Golfe Presidential Day e o Fórum Mundial do Turismo, foram mais um sinal da vontade do novo poder político de recolocar o turismo como fonte de receita pública, aumentando o seu peso percentual no PIB, que hoje anda à volta dos míseros 0,75%, contrastando com os quase 12% do Botswana.

Mas pode a aposta do Governo angolano na captação de investimento externo, no quadro da política de reactivação e diversificação da economia em contraponto com a forte dependência do petróleo, trazer algum dinamismo ao imobiliário de hotelaria e alojamento e ao turismo? 

Aparentemente sim, se não for esta mais uma febre política passageira, igual a tantas outras já vencidas, e se não vivesse o país uma ainda indeterminada transição política, cruzada com processos judiciais que até já atingiram empresários e investidores estrangeiros, nomeadamente tailandeses.

Intenções e promessas não faltam, e os últimos dois meses foram fartos em iniciativas destinadas a reanimar o segmento imobiliário da hotelaria e alojamento:

O próprio empresário turco promotor do Fórum Mundial do Turismo, Friskin Coskun, PDG do Grupo Onsan, informou que vai também lançar um megaprojecto de habitação em Angola, que se tornará no maior empreendimento de habitação social neste país da África Austral, com um total de 10.000 residências.

A tudo isto se junta a tendência estrutural que marca o mercado imobiliário em geral. O relatório da Prime Yield Angola sobre a evolução do mercado em 2018, apenas publicado em Abril, veio confirmar que os preços do imobiliário em Luanda continuam a cair – nos escritórios desceram entre -16% e -22% –, e no que toda a hotelaria assinalou que as diárias praticadas nas categorias de 3 e 4 estrelas diminuíram cerca de 45% e 13%, apesar de se manterem, ainda assim, elevadas para o consumidor doméstico.

A manter-se a tendência, Luanda caminha para perder de vez o lugar de “cidade mais cara do mundo para os expatriados”, estatuto já cedido em 2018 a Hong Kong, como foi divulgado em finais do ano passado pela consultora Mercer.

Mas serão a descida dos preços nos hotéis e o aumento da oferta no suficientes para promover o imobiliário e, por essa via, o turismo angolano? A resposta é: não, não são suficientes.

De facto, Angola é detentora de uma rica fauna, flora e paisagem, incluindo mais de mil quilómetros de litoral atlântico e integra a grande região africana que melhor condição natural oferece para acolher visitantes estrangeiros e rivalizar, até, com potências europeias. O problema é que a exploração de mais este verdadeiro “maná” ainda pena em entrar na cultura económica nacional, muito dada ao proveito quase egoísta das riquezas.

Em plena época colonial, a capital angolana chegou a ser conhecida como a “Flor do Atlântico”, mas hoje, com bens culturais degradados, falta gritante de higiene e saneamento urbano e rural, comércio e restauração em crise e surtos de inurbanidade, violência e criminalidade, associados às tensões políticas, está muito longe de ser um destino africano atractivo para o turismo internacional, que prefere viajar para a África do Sul e outros destinos da SADC.

Novo rosto no esforço de relançamento do turismo que o Governo pretende, Ângela Bragança, Ministra do Turismo e Hotelaria, antiga dirigente estudantil e deputada, é conhecedora da realidade angolana e está muito bem para o cargo. Mas no painel “Turismo e a Inclusão Social em África”, durante o Fórum Mundial do Turismo, que decorreu em Luanda de 23 a 25 de Maio, ela não escondeu os grande problemas do seu pelouro: carência e fragilidade das infra-estruturas e acessibilidades, défice de produção interna e dependência das importações, escassez de equipamentos hoteleiros, formação e a qualificação da força de trabalho, incluindo de gestores. 

Enfim, 43 anos depois da independência de Angola e 17 transcorridos desde o regresso do país à paz e à reconciliação, falta fazer praticamente tudo no ramo do imobiliário da hotelaria e alojamento angolano. Mas nada está perdido. Pelo menos, o país volta a acreditar que é possível ter um bom imobiliário de hotelaria e alojamento e enveredar pelo turismo como potenciador da economia. Como diz o povo, sonhar não custa. 

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