Factos do Mercado Imobiliário Angolano – Setembro

O mercado imobiliário angolano está debaixo de uma pressão para baixar os preços dos imóveis. No mês de Setembro voltaram a notar-se sinais dessa tendência.

Os preços dos imóveis praticados em Angola são altíssimos. Herança dos altos rendimentos gerados à custa do petróleo até por volta de 2009, o valor de algumas casas chega a ser comparável aos mercados mais caros do mundo. Com os milhões de dólares que as imobiliárias angolanas cobram por uma vivenda V4 ou um apartamento T4 em Luanda seria preferível para qualquer comprador optar por um imóvel de qualidade superior em Gauteng, Genebra, Cascais, Miami ou Nairobi.

Embora não seja este o maior problema angolano (a consultora JLL, cotada no NYSE, colocou este mês Angola entre os mercados imobiliários “opacos” de África), o questionamento dos preços dos imóveis voltou às páginas da imprensa em Setembro e emerge já como factor potenciador das necessárias reformas no sector.

Em Agosto deste ano, a Secretária de Estado do Ordenamento do Território, Ângela Mingas, tinha já alertado para os preços demasiado altos da habitação. Ângela Mingas defendeu mesmo uma revisão dos preços praticados pela Imogestin nas novas centralidades construídas pelo Estado, embora estas tenham os preços mais baixos do mercado.

Em Setembro foi a vez do presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC), Amílcar Silva, um experiente bancário e profundo conhecedor da realidade angolana, afirmar que o sector imobiliário angolano não consegue vender os seus imóveis porque pratica preços “excessivos”.

Pelo meio, Massada Culembala, Secretário da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola (APIMA), lamentou que o mercado tenha perdido, em dois anos, 90% dos seus investimentos. Especialista na matéria, Culembala apontou que o preço actual de uma residência de alto padrão em Talatona, zona dos condomínios para ricos, é de 1 a 5 milhões de dólares.

A questão actual do mercado tem realmente a ver com os preços praticados. As razões para o estado de crise a que chegou o mercado já são suficientemente conhecidas: crise nas receitas do petróleo, redução da procura, baixo rendimento dos promotores imobiliários, mediadores e da banca, crédito malparado, aumento dos juros, cancelamento do financiamento bancário, corrupção e falta de transparência. O que o mercado precisa agora é de novo rumo.

Mas se quantos às causas da crise estão de acordo, as divergências surgem nas perspectivas para o futuro. À excepção do Grupo Boa Vida, que na sua “nova abordagem” do mercado angolano acha que é hora de a iniciativa privada garantir a diversificação da economia angolana, a maior parte dos operadores imobiliários clama por uma “intervenção do Estado” no sector. Apesar de não afastar a necessidade dessa intervenção, o presidente de ABANC Amílcar Silva diz algo mais. Ele aconselha os promotores imobiliários privados a, em alternativa à pretensão de lucros imediatos, enveredem pelo sistema de renda resolúvel, aplicando preços mais baixos e acessíveis, de modo a facilitarem a vida da população economicamente activa.

A tendência de descida, mais ou menos acentuada, dos preços dos imóveis em Angola vai prosseguir nos próximos tempos como algo inexorável. Os relatórios de final do ano vão confirmá-lo. A alternativa de não vender e esperar pelos rendimentos do passado é apenas ilusória. O caminho tem de ser trilhado de forma sustentável e favorável à população e ao mercado.

Com a colocação à venda, em Outubro, pelo Governo e a Imogestin, de mais de 4 mil habitações em Luanda e no Uíge, está a perder-se uma oportunidade de pressionar os preços para baixo. A entrada em massa de imóveis na economia seria um factor acelerador da descida dos preços. Mas com a entrega das casas a conta-gotas, como está a ocorrer, vai perder-se o efeito de pressão. E, com isso, será a especulação a ganhar.

Outros destaques do mês de Setembro:

 

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