Burla brasileira “tem pano para mangas”, diz Angop

Construção do Projecto Bem Morar lançada pelos promotores imobiliários (Foto Angop / Henri Celso)

Construção do Projecto Bem Morar lançada pelos promotores imobiliários (Foto Angop / Henri Celso)

A agência angolana de notícias, Angop, publicou hoje um longo trabalho sobre a mega burla imobiliária, lançada há 10 anos por seis “empreendedores” brasileiros e apadrinhada por Pelé, que lesou cidadãos angolanos em 240 milhões de dólares.

A agência pergunta quem vai ressarcir as vítimas, os empresários da Build Angola, os ex-responsáveis da ANIP ou o Estado angolano, e diz que o caso ainda tem “pano para mangas”, apesar de a PGR de Angola ter dito na semana passada que os crimes foram amnistiados em 2016.

Com o título “Build Angola – Um problema de Estado?”, o trabalho, assinado por Elias Tumba e Paulo André, revela que a Agência Nacional do Investimento Privado (ANIP), que certificou o projecto apresentado em Angola há 10 anos, era à época liderada por Aguinaldo Jaime, que foi “o elo entre os promotores e o Estado”, está incluído entre os lesados e vem denunciando o escândalo a nível internacional.

A Angop sublinha que, apesar do cadastro do líder da burla, Paulo Sodré, que já tinha condenado no Brasil por burla, o projecto imobiliário teve certificação da ANIP.

Mas, foi com a chegada de Pelé a Angola, como sócio do negócio, que Paulo Sodré e os sócios tiveram “luz verde” para exporem no Palácio Presidencial o Projecto Bem Morar ao antigo Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, em cerimónia que contou com a presença do responsável da ANIP, refere a agência.

Nessa altura, o presidente da ANIP afirmou que a participação de Pelé no projecto ajudaria a valorizar a captação de investimentos para Angola. “Quando ele aceita vir ao nosso país e emprestar o seu nome a vários projectos, está-se a fazer a promoção da marca Angola em todo mundo, a promover a imagem de Angola junto da comunidade internacional”, terá dito o responsável da ANIP, citado pela agência.

Segundo a Angop, os lesados atribuem culpas à extinta ANIP por ter licenciado uma empresa pouco idónea, com processos nos tribunais do Brasil, e “facilitado” o seu plano. “Para entrar investimento privado em Angola, tinha de ser certificado pela ANIP. Aqui, tratava-se de investimento privado, conforme o anúncio”, refere o coordenador da Comissão dos Lesados, Hélio Silvestre, ouvido pela Angop.

“Há angolanos envolvidos porque em Angola não se criavam empresas sem passar pela ANIP e sem ter um cidadão nacional na constituição da proposta”, reforça Hélio Silvestre.

Na passada quinta-feira (19), a Procuradoria-Geral da República de Angola informou que os crimes praticados pelos empresários brasileiros foram amnistiados em 2016, mas que decidiu instaurar acções judiciais, em defesa dos cidadãos angolanos que pagaram as moradias prometidas pelos brasileiros em 2012, mas não as receberam.

Segundo a agência, apesar de afastada a componente criminal, o litígio ainda tem “pano para mangas”, até que todas as peças do xadrez se encaixem.

A Angop diz que voltou a procurar Aguinaldo Jaime, Pelé e Paulo Sodré, para se pronunciarem sobre as acusações, mas sem sucesso.

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