Pelo menos 4.284 casas do Estado vão ser postas à venda no próximo mês de Outubro e até ao final do ano. Destas 4.284 habitações, 2.600 virão do Zango 8.000, 336 do Zango Zero, 338 da urbanização Km 44 e 1.010 da Centralidade de Quilumosso, na província do Uíge, inaugurada a 10 de Agosto pelo Presidente João Lourenço.
O volume de imóveis que o Estado, através da Imogestin, está a colocar no mercado é grande.
Para se ter uma ideia do que representa a oferta imobiliária pública, o portal privado AngoCasa, que comercializa imóveis de 18 imobiliárias angolanas e pessoas individuais, disponibiliza apenas 2.795 imóveis para compra, venda e arrendamento.
Alguns destes imóveis são também unidades de centralidades e urbanizações construídas pelo Estado para resolução do problema habitacional.
Juntamente com a oferta privada, a entrada de 5.261 novos imóveis do Estado no mercado angolano até ao final do ano devia reflectir-se, de imediato, no preço do imobiliário.
Mas isto não vai acontecer. Porquê?
Sem dúvida, a entrega em massa de casas do Estado pressionaria os preços do mercado para baixo. Mas é pouco provável que essa pressão venham a determinar, de modo significativo, uma descida acentuada dos preços.
O volume da oferta será insuficiente para alterar as condições em que mercado angolano está a operar. A probabilidade real é até que algumas das vivendas e apartamentos do Estado venham a cair na especulação e nas mãos daqueles que já têm habitação.
Dizemos isto baseando-nos na experiência do passado e na tendência que impera no mercado. Tal como ocorreu com as centralidades do Kilamba e do Sequele ou em anteriores processos de comercialização estatal, alguns dos funcionários e trabalhadores de empresas que vão agora adquirir agora casas do Zango 8.000, Zango Zero, Km 44 e Quilumusso, já dispõem de casa(s) própria(s).
Com a obtenção de nova habitação, estes serão levados a aproveitar a ocasião para rentabilizar o que têm, colocando os seus bens no negócio de venda ou arrendamento, onde são praticados preços sem qualquer racionalidade.
Se já estão dentro do negócio, conseguirão pagar as prestações do Estado e voltar a fazer aquisições sempre que as houver, gerando uma corrente de rendimentos interminável.
Mesmo com o aumento da oferta pública, há outro factor a determinar os preços altos.
A imensa maioria dos imóveis privados para comercialização, que poderiam influenciar a descida dos preços, não está representada na totalidade da “oferta” divulgada.
Proprietários, imobiliárias, agentes e corretores escondem este activo, manipulando a oferta e mantendo os preços actuais, na expectativa de que uma recuperação económica em Angola traga de regresso os ganhos absurdos do passado.
A entrada no negócio imobiliário de imóveis que foram construídos pelo Estado para resolver o deficit habitacional é, neste momento, o principal factor a nutrir a procura, quando devia ser todo o mercado a participar no esforço da oferta.
A totalidade da oferta privada é desconhecida e isto suporta a onda especulativa e os níveis altos dos preços.
Uma maneira de fazer baixar os preços seria vender casas a quem realmente não tem.
A Imogestin garantiu que as casas de Outubro serão vendidas a quem ainda não comprou habitação do Estado, mas não pode assegurar que vai apenas vender a quem realmente precisa de casa.
Mesmo para aqueles que são funcionários públicos e trabalhadores de empresas, quem aplica os critérios de selecção são os chefes e quem tem capacidade de compra e se candidata não é quem precisa de casa, é quem é “mais esperto”.
Os preços do imobiliário em Angola são comparáveis à Europa. A culpa é dos investidores que apostam num passado que não volta e do Estado que vende a quem já tem.
A questão do preço da habitação foi levantada este mês pela Secretária de Estado do Ordenamento do Território, Ângela Mingas, que defendeu no Dundo a revisão dos preços praticados nos projectos habitacionais do Estado e o seu ajustamento ao custo das obras e à situação actual do mercado imobiliário.
Ângela Mingas manifestou “apreensão” pelos preços aplicados na venda dos apartamentos da centralidade de Mussungue (Lunda Norte) e usou mesma a palavra “especulação” referindo-se à Imogestin.
O que fazer para que os preços dos imóveis sejam justos?
O mercado imobiliário angolano está a voltar a crescer, agora mais lentamente, mas cresce. A sua dimensão já é suficientemente madura para que o regulador ponha ordem nas coisas de forma séria.
É preciso fixar regras que impeçam os imóveis do Estado destinados à habitação social de caírem no mercado especulativo.
É preciso que os proprietários de imóveis privados destinados à comercialização divulguem o que têm para oferecer ao comprador e ao investidor, em vez de o esconderem.
Apenas assim o mercado imobiliário angolano crescerá com sustentabilidade e justiça, de modo a quem todos saiam a ganhar.
A seguir, os factos principais que marcaram o mercado imobiliário angolano no mês de Agosto:
- Obra do novo edifício da Embaixada de Angola em Berlim entregue à empresa alemã Ed Zublin AG Stuttgart
- 237 dos 1.130 lesados da fraude imobiliária brasileira da Build apresentaram queixa à PGR
- Demolidas 30 casas ilegais no Zango III
- Lançada a primeira pedra do Memorial à Batalha da Cahama
- Dois em cada quatro inquilinos não pagam as prestações da casa à Imogestin
- Administração Municipal do Cuanhama destina 3.200 lotes à autoconstrução dirigida
- Visita de João Lourenço mostrou imobiliário industrial da ZEELB
- Lançada 2ª fase do Condomínio Kikuxi Village
- Grupo AAA inaugurou o IU HOTEL do Uíge
- PGR promoveu Seminário sobre Ocupação Ilegal de Imóveis