Associação propõe medidas para “aquecer” o mercado imobiliário

Carta da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola entregue ao Ministro da Justiça

Carta da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola entregue ao Ministro da Justiça

APIMA entregou documento com sugestões para melhorar a tramitação dos processos imobiliários.

A Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola (APIMA) destacou ontem, num documento entregue ao Ministro da Justiça, que a venda ilegal de terrenos tornou-se “o grande negócio em Angola” e que essa pática é “facilitada em grande parte das vezes pelos funcionários das administrações comunais”.

Em carta entregue ao Ministro da Justiça, Francisco Queiroz, por uma delegação constituída por Cléber Correa, vice-presidente da associação, e Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Ética e Disciplina, a APIMA diz que os promotores imobiliários, “mal começam um empreendimento, são surpreendidos por invasões à sua propriedade, que acontecem da noite para o dia”.

Segundo a carta, publicada integralmente no site da APIMA no Facebook, esses movimentos de “invasão” são “orquestrados com o objectivo de parar as obras e, com isso, o promotor ter que negociar com os invasores para haver a desocupação e a obra continuar”.

Com essas “invasões”, sublinha APIMA, “há cada vez menos terras livres (para construir) e cada vez mais terras com ocupações irregulares”.

No documento, a associação propõe ao Ministério da Justiça a criação de uma lei que tipifique como crime a “invasão (e não ocupação ilegal), bem como a facilitação de acesso irregular a terrenos do Estado, seja por parte de particulares ou funcionários públicos (neste caso com agravante)”.

A extensa carta da APIMA, escrita em português brasileiro, elenca um conjunto de 18 “propostas” concretas, que são antecedidas da descrição dos “constrangimentos” que as motivam, a maior parte dos quais são relativos à excessiva burocracia na tramitação de processos nos organismos dependentes do Ministério da Justiça, como Notários e Conservatórias, e a obstruções que impedem o “aquecimento” do mercado imobiliário.

Um dos “constrangimentos” apontado na carta tem a ver com o Direito de Superfície, considerado na exposição como um documento “quase inacessível” para boa parte da população devido à burocracia. A proposta da associação para que esse problema seja resolvido vai no sentido na criação de um “Guiché Único do Imóvel”, órgão onde todos os intervenientes que concorrem para a concepção da escritura de Direito de Superfície “analisem e trabalhem de forma conjunta para, de maneira célere, os títulos sejam concedidos”.

“Os Tribunais estão abarrotados com processos que envolvem discussões relativas a imóveis” e com isso “o progresso das cidades não acontece e o desincentivo dos empresários privados em investir é cada vez maior”, diz a APIMA, sugerindo a criação de Varas especiais para somente julgarem processos imobiliários e assim desobstruírem os “constrangimentos” existentes.

Entre os assuntos sobre os quais recaem as propostas bem detalhadas na carta, estão, por exemplo, a necessidade de um aumento do número e privatização dos Notários, da unificação dos valores de cobrança, da redução dos prazos de validade das certidões e a sua informatização, do registo provisório da propriedade horizontal para impedir demoras na venda de fracções que estão em construção com um financiamento bancário, a revisão de partes da Lei do Condomínio que se sobrepõem à Lei do Ordenamento do Território e Urbanismo e a inserção de novos itens na Lei de Mediação Imobiliária, que “está sem eficácia”, bem como a actualização do índice de reajuste dos alugueres.

Bancos sem crédito à habitação

O documento dedica uma parte importante da exposição à ausência do crédito à habitação, atribuindo a isso, parcialmente, a crise no sector imobiliário.

“O mercado imobiliário vem diminuindo o ritmo de ano para ano desde 2008, movimento esse inverso à necessidade da população que cresce, tem filhos, aumenta, e por isso tem necessidade de moradia. Entretanto, não há crédito barato e os pedidos de financiamento aos bancos são negados em quase 90% das vezes”, diz a carta sobre o assunto.

“Partindo da premissa de que não existe economia robusta sem um mercado imobiliário aquecido” e de que “é preciso mudar-se esse panorama, com o aquecimento desse mercado e, consequentemente, o aquecimento da economia de Angola”, a APIMA sugere, sobre o crédito bancário, a aprovação de uma lei que preveja a bonificação de juros para a reabilitação e a aquisição de imóveis e defina a dimensão e o valor máximo para a habitação social.

Reconhecendo, no entanto, que os bancos negam e não estão motivados para aceitar os pedidos de financiamento porque a operação não é atractiva para eles, em virtude de os casos de incumprimento, por causa da Lei da Hipoteca, só serem resolvidos em Tribunal em três anos, a Associação dos Profissionais Imobiliários sugere a aprovação de uma lei que resolva os litígios de maneira mais célere.

Outros constrangimentos para APIMA são, segundo o documento, a “desmotivação generalizada por parte dos funcionários dos Notários e Conservatórias, o que faz com que o serviço demore e o Estado arrecade menos, bem como as dificuldades que os investidores internacionais e nacionais que procuram parcerias em Angola têm em avaliar os “riscos na parceria que escolheram, por não terem como analisar a idoneidade do parceiro ou comprador”.

Para a “desmotivação” dos funcionários dos Notários e Conservatórias, a associação sugere que “tenham uma participação financeira por produção”. Para a fiabilidade de parceiros ou compradores, propõe o cadastramento por categorias dos intervenientes nos processos judiciais e a possibilidade dos investidores acederem aos registos para aferirem da fiabilidade dos parceiros.

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