O aumento da oferta de bens imobiliários desocupados e sem clientela para comprar determina hoje a pressão para baixo dos preços dos imóveis em Luanda.
Depois de um período de grande procura e alta de preços de moradias e escritórios modernos, que atingiu o pico em 2009, assiste-se hoje, na capital angolana de cerca de 8 milhões de habitantes, a uma oferta com preços em queda.
A razão disso está no desinvestimento que resultou da crise causada pela diminuição das receitas petrolíferas.
A crise atingiu de maneira particular a construção e o imobiliário.
Os estrangeiros já não fazem tanto dinheiro e abandonaram apartamentos e escritórios, fonte de um negócio que está em transformação.
A oferta de bens imobiliários registou grande dinamismo com o fim da guerra, em 2002. Os níveis de crescimento económico tornaram-se altos e chegaram a atingir 20 por cento do PIB em 2005.
Em 2008, segundo dados do Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda (IPGUL), o número de licenças para novas construções na Província de Luanda cobria 1.063.678 metros quadrados.
As licenças para habitação representaram nesse ano 54.18%, à frente das licenças para os serviços (28,08), o comércio (12,49), a hotelaria (4,10), a indústria (0,52) e os equipamentos (0,03).
O momento era de euforia.
O imobiliário começou com uma oferta de produtos habitacionais para clientes de alta gama, a exemplo dos vários condomínios de luxo de Talatona (Luanda Sul), e prosseguiu com outros destinados ao baixo o médio rendimento, como o Projecto Nova Vida (Bairro do Golfe), de 880 moradias e 1.644 apartamentos.
Até ao surgimento da crise, a pressão para a alta nos valores de mercado era rentável.
Os preços eram determinados por uma elevada procura associada a uma insuficiente oferta, que atraiu investidores de todo o mundo e levou ao lançamento de projectos em quantidade.
Foi uma boa época para quem construía e vendia, mas também para os bancos.
O dinheiro a rodos, o financiamento e o acesso ao crédito para habitação fizeram subir a taxa de bancarização de 6% em 2006 para 12% em 2009.
Ao mesmo tempo, o Governo lançou o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, projectando a construção de um milhão de novos fogos em todo o país, política que deu lugar ao nascimento das novas centralidades com recurso à mão-de-obra da China, património entregue à imobiliária Imogestin para gestão e comercialização.
Hoje a pressão nos preços e no investimento é inversa. O rácio de desocupação aumentou e a oferta elevada é explicada pelo abandono e falta de compradores. O ritmo de construção abrandou e o crédito à habitação parou. As matérias-primas estão caras, os processos são complexos e o panorama menos atractivo para os investidores.
À oferta de imóveis fechados por falta de compradores e arrendatários junta-se o facto de os proprietários continuarem ainda a querer ver o retorno esperado no investimento feito na época alta. Com isso, resistem à queda dos preços e colocam o mercado na expectativa.
O mercado está a ser explorado por pequenos empresários nacionais que operam entre a informalidade e a especulação, procurando lucrar com a oferta disponível.