O V Fórum Urbano Nacional, realizado a 30 e 31 de Outubro, foi uma boa ocasião para debater a real situação do mercado imobiliário angolano, mas nada transpirou em termos de decisões para o futuro. Foi uma oportunidade perdida.
Quase que a sinalizar o fracasso do evento esteve a exoneração, nos dias seguintes, da Secretária de Estado do Ordenamento do Território, a arquitecta Ângela Mingas, em desentendimento aberto com a titular da pasta, Maria João de Carvalho, a acreditar no site Club-K, ligado a círculos informados do governo.
Também muito pouco seria de esperar de um acontecimento que continua a privilegiar os inesgotáveis recursos financeiros do Estado para potenciar o imobiliário, em vez de apostar na iniciativa privada, que provou, depois da guerra, ser catalisadora da economia.
E se dúvidas havia sobre a intenção do Governo de continuar a manter a forte presença do Estado na promoção imobiliária, aí está a proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para o próximo ano, que confirma um aumento dos investimentos na construção de imóveis, bem a transferência de competências em matéria de habitação e construção para os Governos Provinciais e o anúncio feito pelo Director Nacional da Habitação de que sete (7) novas centralidades irão ser construídas pelo Governo até 2022.
Essa linha de orientação económica centralizada é explicada apenas por opções de natureza política partidária, e não de mercado e ou de interesse público, assentando no facto de o partido do governo ter nos próximos anos pela frente importantes desafios eleitorais, a começar pelo primeiro embate eleitoral autárquico de sempre, em 2020, e o ciclo legislativo e presidencial, em 2022, pelo que tem de começar já a apresentar obra se quiser conquistar eleitorado.
O que não se coaduna com essa linha estatizante é a situação de “letargia”, para utilizar a expressão usada pelo Presidente João Lourenço, em que caiu e se encontra o sector imobiliário angolano no seu todo, mas que sacudiu principalmente os investidores privados, e que precisa de um abanão diferente da aposta em projectos públicos megalómanos, sem perspectiva de mercado sustentável nem enquadramento técnico, como alguns lançados no passado.
Recordemos o que afirmou João Lourenço, a 15 de Outubro, na sua mensagem sobre o estado da Nação: “Falando da oferta de habitação, o Estado não será o único nem o principal construtor, este deve ser sobretudo um negócio reservado ao sector privado que investe na imobiliária, aos quais convidamos a sair da letargia”.
De facto, sem o sector privado, que tem muito dinheiro empatado e parado no imobiliário, muito dificilmente o mercado angolano irá ter uma recuperação durável.
Os projectos do Estado, mal ou bem, contam com financiamento. O mesmo não acontece com os projectos privados que vêem hoje as portas do crédito imobiliário e à habitação trancadas pelos bancos nacionais e sem alternativas nas fontes de financiamento.
Caso típico, ao nível da promoção da habitação social, são vários projectos residenciais existentes em Luanda, destinados a alojar famílias de antigos combatentes da luta de libertação e pela independência, que já têm casas prontas para serem habitadas, mas estão dependentes da boa vontade do também em crise Banco de Poupança e Crédito (BPC) e outras instituições para obterem financiamento e concluírem a obra.
Em contracorrente, na gama média e alta, um posicionamento exemplar tem tido o Grupo Boa Vida, que parecendo remar contra ventos e marés continua a avançar com a grande empreitada da Urbanização Boa Vida, localizada na Estrada Comandante Fidel Castro, em Luanda, graças à visão e esforço dos irmãos Dowbor que parecem não esperar pelos favores do Estado. Operando em vários segmentos em Angola há mais de 20 anos, o GBV foi recompensado com nos Prémios Sírius 2018 como a Melhor Empresa Exportadora.
Outras iniciativas privadas dispersas, incluídas nessa grande empresa de reanimar o mercado imobiliário angolano, são visíveis nas campanhas de marketing que promotoras, agentes e corretores imobiliários individuais desenvolvem na imprensa, internet e redes sociais, sem que haja, contudo, uma entidade que, de forma consistente, congregue esse esforço em indicadores económicos e os divulgue regularmente, para que operadores e investidores se entendam sobre os rumos a dar ao mercado imobiliário angolano.
Entidades vocacionadas para essa finalidade existem, mas pouco fazem pelo mercado de forma regular. Aguardemos então pelos relatórios anuais que, por esta altura, habitualmente produzem as consultoras imobiliárias.
Alguns factos do imobiliário angolano em destaque no mês de Novembro:
- Imogestin começa a vender casas em Benguela
- Competências em materia de habitação transferidas para os Governos Provinciais
- Ângela Mingas exoneradas do Ordenamento do Território
- Como pagar o IPU dos imóveis situados nas Centralidades?
- Televisão Pública transmite programa dedicado ao imobiliário
- OGE de 2009 prevê investimentos de 397 milhões de dólares na construção de imóveis