O presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC), Amílcar Silva, afirmou, em declarações ao Jornal de Angola, que o sector imobiliário privado angolano não consegue comercializar os imóveis porque continua a praticar “preços excessivos”.
Em declarações sobre a queda do financiamento bancário, de que se queixam as imobiliárias angolanas e particulares, este economista conhecedor profundo da realidade nacional afirmou que os bancos continuam disponíveis para financiar projectos imobiliários, mas somente para indivíduos com capacidade de endividamento.
Amílcar Silva salientou que a crise económica em Angola deteriorou as condições de financiamento, incluindo os salários, que na conjuntura actual, com inflação de 30 por cento, deixaram de ser suficientes e geram baixo poder de compra.
“Logo, o financiamento só é disponibilizado a pessoas que têm capacidade de pagar dívidas”, afirmou Amílcar Silva, acrescentando que outra razão do não financiamento pelos bancos é que grande parte dos indivíduos que pretendem adquirir empréstimos para aquisição de imóveis já beneficiou de créditos sem os liquidar.
“Enquanto a entidade financiadora não tem retorno do financiamento (já) disponibilizado, não tem como voltar a dar, pois, de contrário, e se a devolução não se procede num prazo determinado, a entidade financiadora é forçada a confiscar o imóvel, para recuperar a parcela injectada num determinado projecto”, sublinhou o Presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC).
Além de afirmar que o sector imobiliário privado não consegue comercializar os imóveis porque continua a praticar “preços excessivos”, impedindo o cidadão de os comprar, Amílcar Silva destacou que a paralisação de muitos projectos imobiliários promove também o crédito malparado, que ronda os 30 por cento.
O Presidente da ABANC aproveitou as declarações ao Jornal de Angola, publicadas sexta-feira (21), para apelar aos promotores imobiliários privados para enveredarem, em alternativa, pelo sistema de renda resolúvel, aplicando preços mais baixos e acessíveis, de modo a facilitarem a vida da população economicamente activa.
Optar pela renda resolúvel
O sistema de renda resolúvel, segundo Amílcar Silva, um dos mais experientes gestores bancários do País, é a forma mais correcta para inverter o quadro no sector imobiliário, já que esta forma de pagamento oferece a vantagem do valor fixo, sem taxas de juros, que um cidadão pode pagar, com menos pressão, a longo prazo.
“Caso os promotores (imobiliários) implementem este sistema, vai diminuir-se o número de obras paradas e a possibilidade de se aceder novamente ao financiamento bancário para a efectivação de mais projectos”, sublinhou Amílcar Silva.
Segundo o Jornal de Angola, o Presidente da ABANC aconselhou ainda os profissionais do sector imobiliário privado a fazerem uma reflexão sobre o sistema de pagamentos, já que a concorrência aumentou com a construção de novas centralidades do Estado, que facilitam hoje a vida dos cidadãos.
“A renda de casa numa centralidade tem em conta pressupostos que o sector privado não possui, assim como a renda resolúvel é um sistema mais viável para o crédito bancário”, disse Amílcar Silva, citado pelo Jornal de Angola.
Mudar o modelo económico
Já em declarações ao semanário Mercado divulgadas na quarta-feira da semana passada (19), o Presidente da ABANC havia explicado as razões que motivam os bancos comerciais a conceder menos crédito, tendo defendido a mudança do modelo económico assente nas importações como uma das soluções para melhorar a relação entre os clientes e as instituições bancárias.
“Os bancos têm de prestar especial atenção à gestão da sua liquidez, à sua capacidade de emprestar, à qualidade da sua clientela para assumir compromissos, que devem honrar nos prazos ajustados com o banco. Empréstimos não liquidados retiram liquidez, diminuem a sua capacidade para voltar a conceder outros créditos”, disse ao Mercado Amílcar Silva.
Segundo Amílcar Silva, os financiamentos bancários ficaram mais caros e os clientes que tinham credibilidade junto dos bancos diminuíram. Os bancos procuram agora outras formas de rentabilizar os recursos temporariamente livres que são postos à disposição dos bancos pelos clientes. Em face dos aumento das exigências dos bancos, a qualidade dos projectos tem de melhorar.
O economista recordou que em todas as economias o consumo é essencial porque gera riqueza, combate a pobreza e aumenta o emprego. “Os programas para a diversificação da economia não estão a ser implementados com a dinâmica necessária. Continuamos a importar muito para fazer face às necessidades das pessoas, e aí o comércio tem de recorrer ao crédito, pois os volumes são elevados. Temos de mudar e fazer acontecer com brevidade uma economia diferente”, destacou.
O economista, que participou nas grandes reformas bancárias desde a independência de Angola em 1975, referiu que o crédito bancário, vital para as empresas, bancos e famílias, tem vindo a decair para os particulares, pelas mesmas razões que afectam as empresas.