A falência, há 10 anos, do banco Lehman Brothers desencadeou a pior crise das finanças mundiais desde a Grande Depressão de 1929 e afectou profundamente o mercado imobiliário.
Como ocorreu a crise?
Alguns bancos norte-americanos especializaram-se em fazer hipotecas através de subprimes, um crédito que era de risco, mas classificado como investimento seguro pelas agências de notação financeira. Em Fevereiro de 2007, vários desses bandos foram à falência.
As taxas de juro praticadas por esses bancos eram variáveis e os empréstimos eram concedidos às famílias com finanças já frágeis e sem garantia de quitação da dívida. Uma queda súbita nos preços da habitação fez com que esses empréstimos acabassem por implodir. Com isso, milhões de pessoas ficaram sem condições de cumprir as prestações mensais dos seus empréstimos. Com a inadimplência, os credores afundaram-se.
Nessa altura, alguns analistas alertaram para o risco dessa ocorrência para os mercados financeiros, mas a maioria dos operadores do mercado continuou optimista, julgando que os empréstimos tóxicos e os títulos ligados ao mercado imobiliário teriam um impacto mínimo na economia dos Estados Unidos.
O Bear Stearns foi o primeiro grande banco a sofrer prejuízos com a crise. Em Junho de 2007, este banco de investimentos anunciou que os seus hedge funds, que serviam de cobertura para os empréstimos subprime, estavam com problemas.
Os mercados mundiais, que recebiam créditos em dólares de instituições bancárias norte-americanas, foram abalados quando bancos como o BNP Paribas, de França, revelaram os seus investimentos em empréstimos de alto risco.
A vaga de turbulência subiu em Julho e Agosto de 2007.
Atingidos os mercados bancários nacionais, os bancos comerciais deixaram de fazer empréstimos mútuos entre si, principalmente em dólares, ao mesmo tempo que vários bancos centrais intervinham no mercado, injectando milhares de milhões de liquidez.
Alguns dos principais bancos do mundo, como o UBS e o Citigroup, ainda conseguiram superar a turbulência. O Lehman Brothers publicou mesmo, em Dezembro de 2007, resultados anuais recordes, com um lucro líquido de 4,2 mil milhões de dólares, mas ocultou uma nova desvalorização e não fez qualquer provisão para atenuar as consequências da crise dos subprime, preferindo vangloriar-se da sua capacidade de operar acima dos ciclos do mercado graças à sua diversificação.
Em contrapartida, entre Agosto de 2007 e Janeiro de 2008, o banco eliminou 3.000 postos de trabalho ligados ao sector das hipotecas.
A 22 de Janeiro de 2008, diante da queda dos mercados mundiais, a Reserva Federal (FeD) norte-americana reduziu as taxas de juros em 3,5%, medida seguida de um novo corte de meio ponto percentual uma semana depois. No mês seguinte, no Reino Unido, o governo nacionalizou o Northern Rock, o quinto maior banco do país, então em crise. Em Março, o JP Morgan Chase, numa tentativa de evitar o colapso, comprou o Bear Stearns por um preço 15 vezes inferior ao valor da sua capitalização de mercado,.
O mercado previu que o Lehman Brothers, que cortou outros 1.400 postos de trabalho no início do mês, podia ser o próximo banco a cair.
A 2 de Junho, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s reduziu a classificação do Lehman Brothers de “A+” para “A” e, uma semana depois, o banco anunciou um prejuízo trimestral previsto de 2,8 mil milhões de dólares, o primeiro desde que o banco surgiu no mercado de acções, em 1994.
O banco ainda procurou uma maneira de aumentar a liquidez, procurando potenciais parceiros. O Banco de Desenvolvimento da Coreia abriu negociações com o Lehman, mas a 10 de Setembro os banqueiros sul-coreanos abandonaram a mesa. No mesmo dia, o Lehman publicou resultados catastróficos.
Apesar de uma tentativa do Tesouro dos Estados Unidos de iniciar um processo de recuperação, o Lehman Brothers declarou falência a 15 de Setembro de 2008, desencadeando o que ficou conhecido como a Grande Recessão, cujas consequências de arrastam até hoje e durante a qual se estima que 9 milhões de americanos tenham perdido as suas casas.